sábado, 28 de maio de 2011

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TEMA: Teoria do Conhecimento e o Processo de Ensino e de Aprendizagem no PROEJA
DELIMITAÇÃO DO TEMA: Dificuldades do Adulto em Aprender a ler e Escrever     
JUSTIFICATIVA
            Em observações práticas em sala de aulas, percebe-se que adultos mais idosos apresentam maiores dificuldades em compreender e assimilar os conteúdos ensinados seja em qualquer área do conhecimento, mas, principalmente, no que diz respeito à alfabetização e ao letramento.
            Muitos alunos até conseguem decodificar o código escrito, isto é, as letras, mas não conseguem compreender esse código, interpretando e compreendendo o que estão lendo, sendo denominados “analfabetos funcionais”. Esta dificuldade é percebida durante a trajetória estudantil em todas as disciplinas. Não conseguem abstrair das letras o significado daquilo que estão lendo.
Para muitos de nossos  alunos, a dificuldade vai muito mais além de ler, escrever e interpretar,  quer não conseguem se quer se organizar com seu material em sala de aula. 
OBJETIVO GERAL: Entender e compreender as dificuldades apresentadas pelos alunos, especialmente os que apresentam idade mais avançada.
OBJETIVO ESPECÍFICO: Auxiliar os professores em sua prática docente  para minimizar e orientá-los na solução destas dificuldades.
REFERECIAL TEÓRICO  
Não se tem como descrever sobre problemas de aprendizagem sem primeiro definir claramente alguns conceitos básico em educação. Vejamos:
JOVENS E ADULTOS: “tem-se como ponto de partida: “não são crianças” com todas as suas modalidades. Não são estudantes universitários, nem profissionais qualificados, não frequentam cursos de formação especializada e nem cursos especializados. Geralmente sãos migrantes procedentes de áreas rurais ou de cidades muito pobres sem qualificação com pouca e baixa instrução escolar, muitas vezes são analfabetos, passagem muito curta em escola institucionalizada, trabalham em ocupações não qualificadas desde a infância ou da juventude”. (Oliveira, 1999). Buscam a escola tardiamente para se alfabetizarem ou cursarem séries de ensino. Tendo na escola uma forma de se qualificar profissionalmente melhorando sua renda familiar. Ser cidadão digno, valorizado (sem ser explorado), ser independente e consciente de seus atos.

ALFABETIZAÇÃO: “é o processo pelo qual se adquire o domínio de um código e das habilidades de utilizá-lo para ler e escrever, ou seja: o domínio da tecnologia do conjunto de técnicas para exercer a arte da ciência e da escrita”. (Ribeiro, 2003).
LETRAMENTO: “é o resultado de ensinar ou de aprender a ler e escrever, tendo como resultado a ação de utilizar as habilidades em práticas sociais, compreender o mundo escrito no dia-a-dia”. (Ribeiro, 2003).
ANALFABETO FUNCIONAL: “indivíduo que não tem  o domínio dos conhecimentos  e das habilidades  de  codificação e decodificação, que lhe permitam o uso das práticas sociais de leitura e escrita”. É o aluno que não dá significado à leitura e a escrita. Não penetra no sentido da leitura. (Ribeiro, 2003).
ANALFABETO ABSOLUTO: não detém nenhum conhecimento nem da escrita e nem da leitura.
ESCOLARIZAÇÃO: é fazer passar por processo de escolarização por aprendizado em escola.
ESCOLARIZADO: é aquele que passou por processo de escolarização de aprendizado escolar.

artigo dificuldade de aprendizagem

Vygotsky e o Papel das Interações Sociais na Sala de Aula:
Reconhecer e Desvendar o Mundo
“Desde os primeiros dias do desenvolvimento
da criança, suas atividades adquirem um
significado próprio num sistema de
comportamento social, e sendo dirigidas a
objetivos definidos, são refratadas através do
prisma do ambiente da criança. O caminho do
objeto até a criança e desta até o objeto passa
através de outra pessoa. Essa estrutura
humana complexa é o produto de um processo
de desenvolvimento profundamente enraizado
nas ligações entre história individual e história
social."
VYGOTSKY
Refletir sobre a importância das trocas entre os parceiros como momentos
significativos no processo ensino-aprendizagem remete, necessariamente, à
psicologia sócio-histórica como paradigma de nossas reflexões. Cabe lembrar,
dentro do espectro de reflexões que esta psicologia sugere, os objetivos e as
finalidades que, acredita-se, deva ter a ação educativa. Temos por pressuposto de
nosso trabalho a meta maior de, inseridos no contexto em que vivemos e na
realidade manifesta em nosso país, criar condições para que os alunos se tornem
cidadãos que pensem e atuem por si mesmos. Acima de tudo, espera-se que eles
sejam pessoas livres de manipulações e conduções externas e que consigam ter a
capacidade de pensar e examinar criticamente as idéias que lhes são apresentadas
e a realidade social que partilham.
Este movimento de compreensão do mundo que aparece dialeticamente na escola
implica ações de investigação e de discussão para a internalizaçâo de funções
mentais que garantam ao indivíduo a possibilidade de pensar por si. Para tanto é
preciso estimulá-lo a operar com idéias, a analisar os fatos e a discuti-los para
que, na troca e no diálogo com o outro, construa o seu ponto de regulação para
um pensar competente e comprometido com determinadas práticas sociais.
'Doutorando da Pontifícia Universidade Católica - PUC/SP.
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A elaboração de idéias e o estudo de fatos conforme sugerimos garantem a
conquista do conhecimento, desde que as atividades propostas para os alunos
tenham por base as interações entre sujeito e objeto (mundo). Tais interações
permitem ao sujeito ultrapassar a impressão inicial das idéias que lhe chegam
e buscar o que está além delas, oculto, mais profundo e sistematizado, de
forma a instrumentalizá-lo para o exame da realidade. Não é possível, no
entanto, abordar a relação entre sujeito e objeto que se desenvolve na escola
sem discutir seu papel enquanto promotora do conhecimento.
Pedagogicamente, as discussões sobre a função da escola e seu papel dentro
da sociedade tomaram caminhos diversos nos últimos anos e, principalmente,
a partir da década de 80, quando vários estados da Federação passaram a ser
governados por partidos menos autoritários e quando algumas secretarias de
estado da Educação como a de São Paulo, universidades e educadores em geral
recolocaram a discussão sobre as funções crítica e libertadora da Educação. Os
entraves colocados pela burocracia estabelecida nas redes públicas pelos
regimes militares motivaram muitas celeumas, e o professor foi, desde então,
pressionado a rever a sua prática e a avaliar os resultados com seus alunos.
Assim, nos últimos anos, muito se falou da formação do professor e do quanto
nossa sociedade ainda não teria percebido a urgência desta questão do preparo
para o exercício competente da tarefa de educar. O atraso nas disposições
práticas que pretendem formar o professor torna-se um problema mais grave
quando notamos que o mundo atual pauta sua organização social e cultural
pelo reconhecimento da importância de informar e divulgar conhecimento.
Estranho paradoxo: o mundo da globalização precisa difundir suas conquistas
tecnológicas mas não é capaz de solucionar o entrave em que se chegou
quando se afirma a urgência de capacitar professores para educar, dilema que
se amplia e agrava quando o país em questão pertence ao chamado mundo dos
"países atrasados".
Coloca-se, novamente, um problema central: o avanço da tecnologia não tem
contrapartida na vida cotidiana dos cidadãos e, entre estes, os professores e
alunos envolvidos na realidade da Escola Pública, onde grande parte dos
membros da comunidade escolar não tem acesso às novas conquistas da
tecnologia. Note-se que não nos estamos referindo à televisão ou ao rádio, meios
de comunicação de massa que há muito pertencem à vida diária dos brasileiros.
O que causa estranhamento é notar a confecção de livros e material didático a
partir de sofisticados softwares de autoria quando a maior parte dos alunos e
professores não possui o seu microcomputador em casa. O mundo pode ser
conectado via Internet e muitos dos nossos alunos saem da escola para
enfrentar o mercado de trabalho antes de completar o 1°- Grau. Talvez existam
mesmo aqueles que se comprazem com tal situação, tema que extrapola
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os objetivos deste artigo, mas pretendemos aqui reforçar a possibilidade de
discutir criticamente este quadro por meio da ação consciente de professores
capazes de promover interações em suas salas de aula.
Ora, tal descompasso nos reconduz ao mundo das políticas públicas para a
Educação no Brasil. Quando nos defrontamos com estatísticas de reprovação,
reeditamos as nossas velhas preocupações sobre o papel da escola e o que ela tem
feito com os seus alunos, sobre como trabalhar com esta realidade e como
conseguir resultados mais satisfatórios.
Das tendências atuais, uma que nos parece melhor colaborar para esta reflexão é
a psicologia sócio-histórica, e, dentro dela, as práticas sociointeracionistas são as
que acenam para caminhos diferentes daqueles propostos pela escola mais
tradicional.
A Constituição Social do Homem
A psicologia sócio-histórica traz em seu bojo a concepção de que todo Homem se
constitui como ser humano pelas relações que estabelece com os outros. Desde o
nosso nascimento somos socialmente dependentes dos outros e entramos em um
processo histórico que, de um lado, nos oferece os dados sobre o mundo e visões
sobre ele e, de outro lado, permite a construção de uma visão pessoal sobre este
mesmo mundo. O momento do nascimento de cada um está inserido em um
tempo e em um espaço em movimento constante. A história de nossa vida
caminha de forma a processarem todos uma história de vida integrada com outras
muitas histórias que se cruzam naquele momento.
Como seres humanos e, portanto, ontologicamente sociais, passamos a construir a
nossa história só e exclusivamente com a participação dos outros e da apropriação
do patrimônio cultural da humanidade.
Temos assim um movimento de constituição do Homem que passa pela vivência
com os outros e vai-se consolidar na formação adulta de cada um de nós. A
criança e o adulto trazem em si marcas de sua própria história - os aspectos
pessoais que passaram por processos internos de transformação -, assim como
marcas da história acumulada no tempo dos grupos sociais com quem partilham e
vivenciam o mundo. Assim, o indivíduo transforma-se de criança em adulto
processando internamente, por meio de seu livre-arbítrio, as diversas visões de
mundo com as quais convive.
Toda esta discussão com certeza tem em VYGOTSKY e em outros psicólogos
russos a sua origem, e seu aprofundamento vem sendo feito à luz de experiências
especialmente do campo educacional.
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Na teoria sociointeracionista de VYGOTSKY, encontramos uma visão de
desenvolvimento humano baseada na idéia de um organismo ativo cujo
pensamento é constituído em um ambiente histórico e cultural: a criança
reconstrói internamente uma atividade externa, como resultado de processos
interativos que se dão ao longo do tempo.
Esta reconstrução interna é postulada por VYGOTSKY na lei que denominou de
dupla estimulação: tudo que está no sujeito existe antes no social
(interpsicologicamente) e quando é apreendido e modificado pelo sujeito e
devolvido para a sociedade passa a existir no plano intrapsicológico (interno ao
sujeito). A criança vai aprendendo e se modificando.
Quando, por exemplo, a criança passa a usar um conceito que aprendeu no social,
só vai ampliar a sua compreensão quando o internalizar e puder pensar sobre ele.
O conceito de mãe pode-nos ajudar a entender, pois evolui da mãe pessoal de cada
um para o conceito mais amplo de Mãe.
VYGOTSKY salienta que as possibilidades que o ambiente proporciona ao
indivíduo são fundamentais para que este se constitua como sujeito lúcido e
consciente, capaz, por sua vez, de alterar as circunstâncias em que vive. Nesta
medida, o acesso a instrumentos físicos ou simbólicos desenvolvidos em gerações
precedentes é fundamental.
Ao nascer, as situações vividas vão permitindo, no universo da vida humana,
interações sociais com parceiros mais experientes - adultos ou companheiros de
mesma idade - que orientam o desenvolvimento do pensamento e o próprio
comportamento da criança. Nesse processo de intermediação onde a linguagem,
principal instrumento simbólico de representação da realidade, desempenha papel
fundamental, postula-se a transformação das funções psicológicas elementares em
superiores.
A função é um instrumento de pensamento. Existem funções psicológicas
elementares, como a memória (orgânica, imediata), e superiores, como 0 raciocínio
e a atenção voluntária. O desenvolvimento da função psicológica superior (FPS)
está diretamente relacionado com a mediação operada pela linguagem. É o sujeito
se apropriando das coisas e transformando-as. A FPS principal é a vontade, pois
possibilita a emergência de todas as outras funções.
O Papel da Linguagem nas Interações Sociais
A passagem das funções psicológicas elementares para as superiores ocorre,
portanto, pela mediação proporcionada pela linguagem que, na abordagem
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vygotskiana, intervém no processo de desenvolvimento intelectual da criança
desde o momento de seu nascimento; por si só, a criança não se apropria
qualitativa e quantitativamente dos conhecimentos desejáveis que alcança por
meio de interações profícuas com os elementos mais experientes do seu grupo
social.
A linguagem do meio ambiente, que reflete uma forma de perceber o real num
dado tempo e espaço, aponta o modo pelo qual a criança apreende as
circunstâncias em que vive, cumprindo uma dupla função: de um lado, permite a
comunicação, organiza e medeia a conduta; de outro, expressa o pensamento e
ressalta a importância reguladora dos fatores culturais existentes nas relações
sociais.
Desta forma, o confronto das concepções iniciais de mundo da criança com
aquelas apresentadas pelos parceiros de seu ambiente torna-se fundamental para
a apropriação de significados diferenciados que, dialogicamente, constituirão
sentidos a serem negociados.
VYGOTSKY estabelece uma importante distinção entre significado e sentido: aquilo
que é convencionalmente estabelecido pelo social é o significado do signo
lingüístico; já o sentido é o signo interpretado pelo sujeito histórico, dentro de seu
tempo, espaço e contexto de vida pessoal e social.
Quando nos referimos a negociação, estamos valorizando as trocas entre os
parceiros em sala de aula, pois é nas interações que tanto o conceito científico
pode ser mais detalhado pelo professor, pois passa a ser mais discutido em um
processo descendente, quanto os conceitos mais cotidianos dos alunos passam a
ser enriquecidos e tomam um caminho mais ascendente, pois são ampliados pelo
conhecimento científico, elaborado historicamente.
Quando a linguagem se dirige aos outros, o pensamento torna-se passível de
partilha. Essa acessibilidade do pensamento manifesta-se, pois, na e pela
linguagem, expressando, ao mesmo tempo, muitos outros aspectos da
personalidade do sujeito.
A fala, uma das formas de linguagem através da qual os significados sociais são
compreendidos e acordados, encontra-se permeada por expressões afetivas que se
tornam igualmente alvo das interações: preferências, antagonismos,
concordâncias, simpatias e antipatias. A ação e a fala unem-se na coordenação de
várias habilidades, entre elas o pensamento discursivo.
Observa-se, então, a objetivação dos sentidos, os quais dão aos signos um
caráter mais pessoal e valorativo, permitindo ao sujeito articulações internas que
requerem negociações para alcançar significados. Assim, VYGOTSKY faz do
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significado das palavras a unidade de análise de suas pesquisas sobre
atividade instrumental, onde o principal instrumento simbólico é a linguagem.
Para ele, a palavra, sendo um microcosmo da consciência, contém em seu
significado a possibilidade de analisar as relações entre pensamento e
linguagem. A unidade mínima do pensamento e da linguagem é o significado
da palavra, ou seja, é no significado que o pensamento e a fala se unem,
criando condições para o desenvolvimento do pensamento lingüístico e da fala
intelectual.
Interação: Diálogo com Parceiros Mais Experientes
Adultos e crianças, professores e alunos podem conferir às palavras significado
e sentido diferentes. Desta forma, os sujeitos mais experientes, ao interagirem
com as crianças, estimulam-nas não só na apropriação da linguagem, como
também na sua expansão, possibilitando, assim, a elaboração de sentidos
particularizados, que dependem da vivência infantil e da obtenção de
significados mais objetivos e abrangentes.
As interações sociais na perspectiva sócio-histórica permitem pensar um ser
humano em constante construção e transformação que, mediante as interações
sociais, conquista e confere novos significados e olhares para a vida em
sociedade e os acordos grupais.
Assim, a interação de membros mais experientes com menos experientes de
uma dada cultura é parte essencial da abordagem vygotskiana, especialmente
quando vinculada ao conceito de internalização: é ao longo do processo
interativo que as crianças aprendem como abordar e resolver problemas
variados. É por meio do processo de internalização que as crianças começam a
desempenhar suas atividades sob orientação e guia de outros e,
paulatinamente, aprendem a resolvê-las de forma independente.
O processo de internalização pode ser entendido como:
"(...) a reconstrução interna de uma operação
externa, onde uma série de transformações se
processam: a) uma operação que inicialmente
representa uma atividade externa é
reconstruída e começa a ocorrer internamente.
b) um processo interpessoal é transformado
num processo intrapessoal. c) a transformação
de um processo interpessoal num processo
intrapessoal é o resultado de uma
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longa série de eventos ocorridos ao longo do
desenvolvimento."
VYGOTSKY, ao desenvolver sua teoria, parece não ter pretendido criar um modelo
simples e linear de transmissão da experiência cultural do adulto para a criança.
O pensamento aparece como diálogo consigo mesmo e o raciocínio como uma
argumentação metacognitiva; a atividade mental não é nem pode ser mera cópia
do diálogo adulto/criança, posto que esta última participa ativamente da
interação: a internalização transforma o próprio processo e muda sua estrutura e
funções. Desta forma, a internalização não pode ser entendida como adoção
passiva do conhecimento previamente apresentado à criança pelo adulto. Antes, é
um processo de reconstrução mental do funcionamento interpsicológico.
O processo de internalização, com todas as suas particularidades, caracteriza-se
como uma aquisição social onde, partindo do socialmente dado, processamos
opções que são feitas de acordo com nossas vivências e possibilidades de troca e
interação.
Interações em Sala de Aula: Trabalhando na Zona de Desenvolvimento
Proximal
O ponto de partida desta nossa reflexão encontra-se no grande valor que a teoria
vygotskiana dá ao processo de interação e, em nosso caso específico, como
educadores, às intervenções pedagógicas e ao ensino na construção do
conhecimento. Aqui é fundamental discutirmos um pouco a noção de Zona de
Desenvolvimento Proximal, que fornece subsídios para reforçar o papel de
desafiador que o professor deve exercer em seu trabalho com os alunos.
Diante de situações em que precisa manipular conceitos e realidades que já
conhece para chegar a saberes até então ignorados, o aluno sugere respostas e
chega a resultados que lhe permitem alcançar novos níveis de conhecimento,
informação e raciocínio. Estamos frisando que, para VYGOTSKY, é na interação
entre as pessoas que em primeiro lugar se constrói o conhecimento que depois
será intrapessoal, ou seja, será partilhado pelo grupo junto ao qual tal
conhecimento foi conquistado ou construído.
Quando nos referimos ao valor das interações em sala de aula, é importante
pensarmos que este referencial não compactua com a idéia de classes
socialmente homogêneas, onde uma determinada classe social organiza o
sistema educacional de forma a reproduzir seu domínio social e sua visão de
mundo. Também não aceitamos a idéia da sala de aula arrumada, onde todos
devem ouvir uma só pessoa transmitindo informações que são acumuladas nos
cadernos dos alunos de forma a reproduzir um determinado saber eleito como
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importante e fundamental para a vida de todos. Aliás, afirme-se, consideramos
tais concepções de ensino complementares, na medida em que privilegiam os
aspectos educacionais selecionados por grupos que exercem poder político e
econômico sem qualquer contato com as reais necessidades da maior parte da
população.
Quando imaginamos uma sala de aula em um processo interativo, estamos
acreditando que todos terão possibilidade de falar, levantar suas hipóteses e, nas
negociações, chegar a conclusões que ajudem o aluno a se perceber parte de um
processo dinâmico de construção.
Não nos estamos referindo a uma sala de aula onde cada um faz o que quer, mas
onde o professor seja o articulador dos conhecimentos e todos se tornem parceiros
de uma grande construção, pois ao valorizarmos as parcerias estamos mobilizando
a classe para pensar conjuntamente e não para esperar que uma única pessoa
tenha todas as respostas para tudo.
Ao valorizarmos as interações, não estamos esquecendo que a sala de aula tem
papéis que precisam estar bem-definidos, mas também queremos reforçar que
estes papéis não estão rigidamente constituídos, ou seja, o professor vai, sim,
ensinar o seu aluno, mas este poderá aprender também com os colegas mais
experientes ou que tiverem vivências diferenciadas. Ao professor caberá, ao longo
do processo, aglutinar todas as questões que apareceram e sistematiza-las de
forma a garantir o domínio de novos conhecimentos por todos os seus alunos.
Radicalizamos o argumento em favor da interação porque acreditamos que o
Homem se constitui enquanto tal no confronto com as diferenças; e um dos
laboratórios privilegiados para isso é a escola, onde somos reunidos com diferentes
realidades e, no conjunto de tantas vozes, acabamos por acordar significados para
determinadas coisas que na individualidade de cada um podem ter diversos
sentidos.
O Professor Mediador
A organização do trabalho docente nesta perspectiva é diferente a partir do
momento em que estamos apontando que é possível construir relações válidas e
importantes em sala de aula; cada um tem o seu lugar neste processo, e o aluno é
alguém com quem o professor pode e deve contar, resgatando a sua auto-estima e
capacidade de aprender. Valores e desejos estão sempre permeando as relações
entre as pessoas; ao conseguirmos não marcar as relações com preconceitos que
mascaram todas as possibilidades de conhecimento real, estaremos abrindo um
campo interativo entre nosso aluno e todo o grupo que o rodeia.
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A apropriação da cultura pelo indivíduo não acontece de forma passiva: este, ao
receber do meio social o significado convencional de um determinado conceito,
interioriza-o e promove, nele, uma síntese pessoal. Esta, por sua vez, ocasiona
transformações na própria forma de pensar. É, portanto, com outros sujeitos
humanos que maneiras diversificadas de pensar são construídas, via
apropriação/internalização do saber e do fazer da comunidade em que o sujeito se
insere.
Ora, a aprendizagem desenvolvida na escola é uma fonte importante de expansão
conceituai. Afinal, a escola é um ambiente, ou pelo menos deveria ser, privilegiado
para fornecer o suporte necessário a ricas e profundas interações com o
conhecimento socialmente elaborado. Nas interações criança-criança e
professor-crianças, a negociação de significados favorece a passagem do
conhecimento espontâneo para o científico, possibilitando aos alunos não só a
apropriação do legado cultural, a construção dás funções psicológicas superiores e
a elaboração de valores que possibilitam um novo olhar sobre o meio físico e
social, como também sua análise e eventual transformação.
Entende-se por conceitos espontâneos aqueles que as crianças constroem
sozinhas em suas relações cotidianas, sendo, portanto, concretos e assistemáticos.
Ao adentrar o espaço escolar, espera-se que este possibilite ao conceito
espontâneo adquirir nova significação, ou seja, que permita sua inserção em um
sistema conceitua) abstrato, com diferentes graus de generalidade, características
que definem o conceito científico.
O desenvolvimento de um sistema de conceitos e a mediação desses conceitos
envolvem um tipo de aprendizagem na qual as funções psicológicas superiores se
constroem e se desenvolvem. Assim, a apropriação de conceitos científicos começa
com procedimentos analíticos e não com experiências concretas. A aprendizagem
dos conceitos científicos adquiridos via mediação cultural, que se dá na e pela
interação com professores e colegas, apóia-se em um conjunto previamente
desenvolvido de conhecimentos originários das experiências diárias da criança.
Esse conhecimento, espontaneamente adquirido, passa a ser o mediador da
aprendizagem de novos saberes.
A articulação do conceito espontâneo com o conceito científico possibilita, segundo
entendemos da interpretação vygotskiana, um tipo de percepção mais
generalizante, conscientizando a criança de seus processos mentais e
impulsionando o seu desenvolvimento.
"Pode-se remontara origem de um conceito
espontâneo a um confronto com uma situação
concreta, ao passo que um conceito científico
envolve, desde o início, uma atitude mediada em
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relação a seu objeto. Embora os conceitos
científicos e espontâneos se desenvolvam em
direções opostas, os dois processos estão
intimamente relacionados. É preciso que o
desenvolvimento de um conceito espontâneo
tenha alcançado um certo nível para que a
criança possa absorver um conceito científico
correlato."
É de central importância a transição dos conceitos espontâneos para os
conceitos científicos. Decorre daí o fato de a proposta sociointeracionista
atribuir ao papel do professor uma grande importância. Cabe a ele promover a
articulação dos conceitos espontâneos da criança com os científicos veiculados
na escola, de tal forma que, de um lado, os conceitos espontâneos possam
inserir-se em uma visão mais abrangente do real, própria do conceito científico,
e, de outro lado, os conceitos científicos tornem-se mais concretos, apoiando-se
nos conceitos espontâneos gerados na própria vivência da criança. Criam-se,
assim, novas condições para que os alunos compreendam de forma mais
ampla a realidade.
O professor em sala de aula instrui, explica, informa, questiona e corrige o
aluno, fazendo-o explicitar seus conceitos espontâneos. A ajuda do adulto
permite à criança resolver mais cedo os problemas complexos que não poderia
enfrentar se fosse deixada à mercê da vida cotidiana. Assim, as experiências
das crianças, mais notadamente as que se dão de forma sistemática no mundo
escolar, parecem implicar mais desenvolvimento e maior conhecimento sobre a
realidade física e social.
Conseqüentemente, a intervenção das pessoas mais experientes na vida das
crianças, criando-lhes espaços diferenciados de interlocução, parece ser
fundamental para o desenvolvimento e a constituição de seu modo de ser
social.
Para o sóciointeracionismo, o desenvolvimento se produz não apenas por meio
da soma de experiências, mas, e sobretudo, nas vivências das diferenças. O
aluno aprende imitando, concordando, fazendo oposição, estabelecendo
analogias, internalizando símbolos e significados, tudo isto num ambiente
social e historicamente localizado.
As relações estabelecidas no ambiente escolar passam pelos aspectos
emocionais, intelectuais e sociais e encontram na escola um local provocador
destas interações nas vivências interpessoais. A escola caracteriza-se como um
dos primeiros locais que deveriam garantir a reflexão sobre a realidade e a
iniciação da sistematização do conhecimento socialmente construído.
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Estabelecendo um palco de negociações, os alunos podem vivenciar conflitos e
discordâncias buscando acordos sempre mediados por outros parceiros.
É fundamental destacarmos que importante no processo interativo não é a
figura do professor ou do aluno, mas é o campo interativo criado. A interação
está entre as pessoas e é neste espaço hipotético que acontecem as
transformações e se estabelece o que consideramos fundamental neste
processo: as ações partilhadas, onde a construção do conhecimento se dá de
forma conjunta. O importante é perceber que tanto o papel do professor como o
do aluno são olhados não como momentos de ações isoladas, mas como
momentos convergentes entre si, e que todo o desencadear de discussões e de
trocas colabora para que se alcancem os objetivos traçados nos planejamentos
de cada série ou curso.
Algumas Conclusões
Concebendo a escola como o lugar onde ocorrem a apropriação e a
sistematização do conhecimento e onde a aprendizagem deve estar sempre
presente, estamos olhando aqui as interações em um contexto específico - o
processo ensino-aprendizagem. A sala de aula é, como nos referimos
anteriormente, um laboratório, no qual o processo discursivo ocorre pelas
negociações e conflitos que aparecem perante o novo, perante aquilo que não
se conhece ou não se domina totalmente e que apresentamos aos alunos de
maneira problematizadora.
Quando motivados, nossos alunos entram no "canal interativo", envolvem-se
nas discussões, sentem-se estimulados e querem participar, pois internamente
estão mobilizados por estratégias externas -ferramentas sedutoras que o
professor deve usar para mobilizar sua classe. Quando falamos em
ferramentas externas, referimo-nos aos instrumentos físicos que não precisam
ser algo extremamente sofisticado - basta que façam parte da criatividade do
professor. Temos profissionais que com algumas sucatas ou materiais
disponíveis em sua realidade conseguem envolver e transformar os seus
alunos. O mundo do conhecimento está muito além do computador ou de
ferramentas tecnologicamente sofisticadas; elas nos ajudam sem dúvida, mas
não conseguem criar, sozinhas, os necessários campos interativos. Cabe ao
professor transformar tecnologia em aula socialmente construtiva, sucata em
"material de ponta", conhecimento espontâneo em conhecimento científico,
mundo encoberto em mundo revelado, e tudo o mais que proporcione o
reconhecimento e o encantamento com a vida pessoal e a vida social dos
grupos refletidos na sala de aula por meio da presença dos alunos e mesmo do
professor que, de repente, descobre sua própria vida em meio à vida de seus
alunos.
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Bibliografia
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teorias psicogenéticas em educação. São Paulo: Summus, 1992.
LURIA, Alexander R., LEONTIEV, Alexis N., VYGOTSKY, Lev S. Psicologia e
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RIVIERE, Angel. La psicologia
SMOLKA, Ana L. B., GOES, M. C. R. (Orgs.). A linguagem e o outro no espaço
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VYGOTSKY, Lev S. A formação social da
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122
Vygotsky, Wallon:Vygotsky. aprendizado e desenvolvimento, um processode Vygotsky. Madri: Visor, 1988.mente. São Paulo: Martins Fontes, 1989.

João Carlos Martins'